domingo, 27 de março de 2011

Publicidade - 15 MINUTOS DE FAMA - 9º ano (8ª série)

A reportagem de VEJA sobre o narcisismo das celebridades serve de bom ponto de partida para um debate atualíssimo: a busca desenfreada pela fama. A revista cita a célebre frase de Andy Warhol prevendo 15 minutos de fama para todos. O que o pintor americano não previu é o que as pessoas seriam capazes de fazer para chegar a esses 15 minutos e o pior: até onde iriam para não retornar ao anonimato.
A celebridade é um espécime típico do século XX que, no começo do XXI, vem se reproduzindo com espantosa velocidade nos quatro cantos do planeta. O que caracteriza uma celebridade é que ela não depende de algum mérito tradicional para ter alcançado fama e fortuna. Não precisa ser excepcionalmente bela, como uma Luiza Brunet, nem capaz de prodígios intelectuais, como Albert Einstein, que criou a teoria da relatividade, ou físicos, como um Pelé ou um Gustavo Kuerten. A celebridade pode ter eventualmente realizações que deixam lastro, mas não precisa necessariamente delas para se afirmar. Como define o historiador americano Daniel Boorstin, a celebridade é famosa por ser famosa. E ponto final. Quem turbina a indústria das celebridades são os meios de comunicação e entretenimento. Debata com a turma essa questão. 


CELEBRIDADES
O sistema de criação de celebridades alimenta-se do rádio e da imprensa escrita, jornais e revistas, entre outras, tendo recebido um grande impulso com o advento da internet, nos anos 1990. A rede mundial de computadores acabou com os filtros da imprensa tradicional e permitiu que pessoas pudessem se mostrar para o mundo inteiro a partir de sua própria casa, bastando para isso uma webcam, um computador e uma conexão.
O mundo das celebridades como o conhecemos hoje deve muito ao cinema. Até a popularização dos filmes, em meados dos anos 1910 nos Estados Unidos, atores demoravam anos, eventualmente décadas, percorrendo longas distâncias para ganharem reconhecimento público. Com a indústria cinematográfica, um bom filme em poucos meses chegava a um número muito maior de cidades e com a capacidade de catapultar a fama de seus protagonistas. Duas décadas depois, o mundo já fazia fila nos cinemas para ver seus atores favoritos e essa até então inédita legião de fãs chamou a atenção de jornais e revistas, que começaram a abrir espaço em suas publicações para fotos e pequenas notícias dos artistas mais populares.

O QUE SÃO OS TABLÓIDES?
O termo adotado pelos britânicos vem da expressão francesa tablette, que foi aportuguesada como tablete – sinônimo de pequenos pedaços. A ideia original dos tabloides era exatamente a de condensar notícias: muitas notas, em geral curtas e com manchetes enormes. A ideia era causar sensação, o que lhes valeu a alcunha de “sensacionalistas”.
  A partir de meados do século XX, proliferaram nos EUA e na Grã-Bretanha tabloides pornográficos e sangrentos quase completamente ficcionais, com verdade suficiente apenas para fazer as histórias parecerem verossímeis. Mesmo hoje, alguns incluem as histórias mais absurdas inventadas pelos redatores. Se for um evento incrível que aconteceu em alguma parte remota do mundo, ou se as pessoas mencionadas são vagamente identificadas, então a história é provavelmente falsa. Entretanto, esse é o último refúgio para os redatores e editores: eles normalmente tentam embasar as notícias com uma partícula de verdade. A chave para a redação da notícia de um tabloide é algo que não seja necessariamente real para ser impresso - alguém apenas deve dizer que foi verdadeiro. Vale citar como exemplo, no Brasil, o jornal Notícias Populares, que circulou entre 1963 e 2001.
Lembre que o período coincidiu com a chegada da televisão, que aumentou exponencialmente o número de pessoas notáveis. Não só quem fazia TV - atores, repórteres e apresentadores – se tornou popular, mas quem era retratado por ela também – músicos e esportistas, entre outros.
Com a quantidade de celebridades aumentando a todo instante, era natural que a indústria jornalística aproveitasse o filão. O filme La Dolce Vita (1960), do italiano Federico Fellini, mostrou a vida do jornalista Marcello Rubini, representado por Marcello Mastroiani. Bastante indiscreto e sempre atrás de personalidades, ele era acompanhado pelo fotógrafo Signore Paparazzo (Walter Santesso). O sobrenome (e seu plural em italiano, paparazzi), passou a designar aqueles que fotografam pessoas famosas sem autorização, expondo em público as atividades que eles fazem em seu cotidiano.
Fofocas sobre famosos são o carro-chefe dos tabloides e revistas de celebridades. As fontes desse tipo de informação estão em todo o lugar. Cada veículo mantém um exército de informantes, incluindo guarda-costas, cabeleireiros, motoristas particulares e mesmo policiais, que entram em contato toda vez que têm alguma informação. Essas pessoas recebem uma quantia considerável, dependendo da qualidade da notícia e de quem está envolvido. Mas garanta para a garotada: grande parte das informações vem das próprias celebridades, via assessores de imprensa. Algumas estrelas constroem uma relação de trabalho com o periódico, oferecendo notícias particulares em troca de publicidade gratuita. Outras vezes, o tabloide aceita as informações concordando em não publicar notícias escabrosas ou negativas sobre determinada personagem. Também os estúdios e emissoras de TV deixam vazar informação sobre os filmes, capítulos de novela ou sobre os scripts de uma nova temporada de uma série de TV. Tudo pela propaganda.
Criar fatos em torno de si: eis uma regra de ouro para quem pretende conquistar a fama e mantê-la por mais de uma temporada. Para isso, vale namorar alguém famoso (ou fazer de conta que namora). Aparecer o máximo possível na televisão, em desfiles e festas. Mulheres sempre têm o recurso de posar desinibidamente para revistas masculinas.
Mas o que alimenta o interesse pelas celebridades? Os estudiosos acreditam que, num mundo onde as relações familiares estão cada vez mais restritas ao núcleo central, as celebridades viraram uma extensão daquelas grandes famílias de antigamente. São "parentes" com os quais se pode conviver diariamente sem que se tenha de arcar com as consequências que isso acarreta entre pessoas que têm laços na vida real. Com uma vantagem: pode-se trocar de "parentes" quando se está cansado deles - daí a brevidade das celebridades instantâneas. Vamos nos perguntar, sabemos dizer onde anda a Tiazinha ou a Feiticeira, celebridades de primeiro time há menos de 10 anos. Ou o vencedor de algum Big Brother, como Dhomini, da terceira edição, ou Kleber Bambam, da primeira.

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